quinta-feira, 22 de março de 2007

Partida

Vou partir para o mundo dos sonhos.
Mas não vou só!
Levo as tuas mãos entrelaçadas na minha saudade;
Nos meus seios levo a fúria do teu toque,
Na minha boca, pedaços de ti,
Recolhidos nas tuas ousadias de posse;
Na minha pele carrego os teus dedos,
Colados a cada recanto de mim;
No meu pensamento,
A tua voz traça melodias que se esfumam…
E o abraço eterno que trocamos sorri para mim;
O tempo parou…
Parto…
Mas parto contigo…

Vazio

Embrulhada na não-luz,
sonho-te
na clareza que a noite amanhece;
Respiro-te
no perfume que as tuas mãos deixaram no meu corpo;
Sinto-te
na minha boca…
Permanecem em mim
a tua saliva,
o sabor dos beijos que as nossas línguas trocaram…
Os meus lábios doridos
sentem a dor dos teus,
toda a minha pele ainda te frui,
o meu corpo ainda é outro que foi…
Plena da tua presença,
as minhas mãos sentem no vazio
todos os detalhes do teu corpo…
E neste silêncio da alma,
voo através de loucuras inconfessas,
atravesso o universo,
e chego a ti,
beijo-te a face,
afago-te os cabelos…
e sussurro-te ao ouvido…
e peço mais...
Desgraçadamente…

Paz

Do encanto dos momentos de carinho que vivemos
Em tardes calmas
O sentimento que flúi é intenso.
As tuas carícias suaves, lentas e demoradas
Mergulham-me num banho de meiguice roubado a um lago inventado.
Passeias-te na minha pele,
Delicio-me no prazer que emerge de cada milímetro de mim,
Por onde as tuas mãos vagueiam perdidas dos sentimentos…
Nas minhas entranhas sinto aflorar uma loucura
E nenhuma serenidade de beijos doces a trava.
Imersa na ternura que nasce de ti,
Recebo- te…
Não há tranquilidade de espírito,
Apenas a harmonia do sentir perpetua as sensações que prolongo…
E este momento é só meu.
A minha alma toca-te para lá da pele,
Entranha-se na tua,
Aninha-se entre o espaço mínimo que os nossos corpos deixam entre si.
A música que soa desliza do meu coração,
Soa baixinho nos suspiros que os meus lábios soltam,
Sedentos te beijam,
Roçam a placidez e a quietude de quem não está!
Este momento é eterno como o infinito do céu,
A sintonia que existe em nós não se sente nem se vê,
Porque não existe,
Emana,
Como um perfume,
Desprende-se das emoções que não consigo conter.
Envolvida no silêncio do aconchego e do conforto deste abraço,
Assim fico perdida em ti, por tempo incerto,
E apenas sei que a missão que ambos trazíamos tatuada na alma foi ali cumprida.
Na beleza de um paraíso perdido em lugar nenhum,
Entre esperas, ilusões e sonhos…
Reina finalmente a Paz!

Jogo duplo

Vamos, dupla de mim!
Vem fazer comigo
Um jogo cúmplice…
Escondida entre o corpo e a alma,
Desnudo a alma,
Oculto o corpo que ilusoriamente se desnuda…
Entre luzes e contraluzes de crepúsculos tardios te sorrio…
Da minha pele soltam-se tons e sabores de volúpia,
Desprendem-se aromas de desejo.
Aflora no meu ventre o mesmo arrepio de prazer,
O mesmo que a minha pele sente
Nos momentos em que insinuo o meu querer diante de ti.
Devoras-me no pensamento,
As tuas mãos tremem inquietas,
Num impulso me queres tocar e partilhar,
As loucuras ardentes estremecem-te…
E aquecem-te o íntimo.
Sentes cobiça nos teus lábios
E na tua língua…
Anseias tocar e invadir a minha boca molhada,
Quente e sedenta de um beijo teu.
As minhas mãos percorrem-me deliciosamente,
Provoco-me…
Suspirando, acaricio os seios…
O prazer só meu, consegues ler-mo no pensamento.
Embriagada de mim mesma,
Deixo-me ir livremente…
Escuto o que a pele me diz…
Fecho-me à razão…
Deixo-me no instinto…
O gozo me guia nesta jogada sem dados lançados,
Sem regras escritas,
Sem vencedor nem vencido.
Lentamente me dispo
Para ti …
Entre o mistério de penumbras e sombras,
Brilhos e centelhas de lascívia,
Embalada pela música do silêncio,
Canto em uníssono de âmagos.
Desato os segredos da minha intimidade,
Surjo num sonho teu...
Junto a ti...

Tentação

Apareces-me no sonho,
Me tentas,
Me queres,
Provocas-me!
E, então,
Lembro-me de ti sorrindo-me no silêncio.
Sei de cor as palavras que me disseste,
Ao som de um luar de Janeiro em Setembro,
Na sombra de uma noite em dia de sol
Que nos aconchegou debaixo do mesmo instante.
E mais uma vez sinto na pele
Ruídos que o desejo riscou …
Quando me traçou as vontades,
Desenhou em ti
Murmúrios que ainda ecoam na montanha da minha alma.
Em meus olhos faço parágrafos à vida!
Quero esquecer o que não vi,
Mas apenas te tento encontrar em mim.
Os lábios sentem o ardor dos beijos que me deste,
Quando, abraçado ao calor da cumplicidade,
Te copiaste para dentro de mim
E de mim passaste a fazer parte.
Pedes-me a permanência na carícia das minhas mãos,
Revestes-me a pele de um perfume de fantasias.
As emoções dobram-se em mil milhões
Partilho-as.
Mas só eu relembrarei o poema de Amor que em ti escrevi…
A sabedoria dos teus dedos,
Apenas escreveu nas páginas brancas da minha alma
Pedaços de ti,
Na forma da minha paixão.
Memorizei o silêncio do adeus
Que eu fiz soar quando nos despedimos,
À porta da esperança
De nos sabermos
Em mais um dia!

Invenção

Em sonhos te inventei...
Procurei-te,
Construi-te
À imagem de cada vazio da minha alma.
Cruzei-me contigo
Num Universo que não sei
E ele nos juntou.
Quando na folha branca do destino
Te sentaste,
Ao lado do meu sonho,
Desenhaste nele o amor que não tinhas,
Acariciaste as minhas fantasias
E dissolveste as minhas certezas;
Aqueceste cada recanto de mim
E sorriste-me em dedos hábeis;
Reencontraste-me na alma
E acreditei no mundo dos meus segredos!
Numa ilusão de eternidade
Pairei sobre uma quimera...
A minha magia desafiou a consistência da verdade,
A minha fantasia suplantou a realidade...
E não te encontrei!

Solidão

As minhas lágrimas
Escurecem em mim
O céu da minha noite.
Entre os raios da lua nova
Caminho sem ver.
Os meus passos perdem-se
Por entre o frio que me gela a alma;
A escuridão devora-me a vida
No silêncio dos sentidos
Que as certezas trespassaram!
Perde-se o alento...
Perco-me na dúvida de um rumo...
A saudade vagueia entre verdades...
Na loucura dos sentimentos,
Cúmplice de beijos e ternuras,
Reencontro a solidão,
Companheira amada.
Inanimada me entrego às suas mãos.
Curandeira eficiente
Das queimaduras que o Amor traça,
Me sutura as veias que teimam lançar fogo...
Em mim mesma!...

Laboratório

Dei voltas ao mundo,
Caí,
Levantei-me,
Cresci...
Já me não sabes,
Já me não conheces.
Carreguei sobre o meu dorso
Sacos repletos de mágoa...
Saquetas de humilhação...
Panfletos de despeito...
Passei o umbral da tua porta
E tu tiveste pressa em fechá-la...
Lançaste fora a chave que eu continuo a procurar!
Chamei-te do fundo do abismo,
Não me ouviste,
O grito era surdo...
Escrevi-te cartas de amor
Numa alma vazia;
Não as leste,
As folhas não possuiam palavras...
Pousei nos teus ramos,
Caí,
Eles não estavam lá...
Fui voluntária no teu laboratório da vida,
Tomei doses maciças de vacina anti-tu,
Não possuiam quaisquer antigenes,
O meu corpo não produziu anticorpos,
Adoeci...
Curei...
E cresci!

Envelope

Entrego-me ao momento,
Instante que rouba o sonho;
A alma encontrada se perde
Nas premissas impostas…
Livre na ilusão,
Solta no sonho,
Vazia de lógica,
Perde-se na solidão do Mundo
Onde tudo é sentido e razão!
Caminho à procura da Eternidade,
Perco-me na imortalidade de sentimentos
E os meus sentidos,
As minhas esperanças,
Perdem-se,
Transposta a porta para o mundo…
Ali podíamos,
Feitos de nada,
Deixarmo-nos guiar pela luz
De encontros nado-mortos…
Procuro a chave para regressar…
A estrada tornou-se outra,
Esburacada e íngreme,
Apenas se deixa percorrer pelo silêncio e saudade!
Envolvo-me em sentimentos inconfessos,
Encontro-te nas dúvidas,
Enlaço-te nas incertezas,
Caminho ao lado dos receios…
Fecho-me num envelope
Perfumado de ti,
Preenchido de palavras,
De sonhos,
Passes de mágica inventados noutros tempos!
A ti o remeto…

Destroços

Rastejo no vazio,
Procuro a luz da tua mão,
As respostas às perguntas que não fiz…
A dor empurra-me,
Não tenho forças…
De encontro ao chão sufoco,
Não consigo pensar!
As lágrimas esvaziaram-me a alma!
O sofrimento alongou o tempo
E o discernimento ficou soterrado
Sob o monturo de escombros
Das paredes que o Amor não construiu!
Olhei de perto os destroços…
Lenta e sofrida, olhei-os de perto.
Ao teu lado,
Feri as minhas mãos de fantasia
Na tentativa de reconstrução.
Não pude!
O fim anunciado inundou-me.
Fiquei presa nos despojos do passado!
Estendi a mão
Num pedido mudo de socorro.
Não ma seguraste.

Destroços

Rastejo no vazio,
Procuro a luz da tua mão,
As respostas às perguntas que não fiz…
A dor empurra-me,
Não tenho forças…
De encontro ao chão sufoco,
Não consigo pensar!
As lágrimas esvaziaram-me a alma!
O sofrimento alongou o tempo
E o discernimento ficou soterrado
Sob o monturo de escombros
Das paredes que o Amor não construiu!
Olhei de perto os destroços…
Lenta e sofrida, olhei-os de perto.
Ao teu lado,
Feri as minhas mãos de fantasia
Na tentativa de reconstrução.
Não pude!
O fim anunciado inundou-me.
Fiquei presa nos despojos do passado!
Estendi a mão
Num pedido mudo de socorro.
Não ma seguraste.

Noite

Depois de fins
Copiados de não começos,
Foste o meu início perdido.
Encontrei-te na sombra da minha noite!
Entre sonhos me prendi a ti,
Em cumplicidades inesperadas me fiz tua…
Envolvida numa explosão de luz e sentimemnto,
Ateei fogo à minha paixão,
Abri o meu silêncio secreto,
Fechado no livro da alma.
Num mundo só meu
Conjuguei a dor de amar
Em tempo e modo só meus.
Inventei a paixão…
À imagem da tua proximidade!
E agora contemplo de novo a noite,
Tento esquecer o caminho que me conduziu a ti,
Atravesso o tempo…
No teu pensamento
Traço o início da eternidade…
E no meu querer
A intensidade do amor tatua a minha paz!

A sós

Fora eu a tua vida,
A tua pele,
O teu sangue…
Pudesse eu fazer-te subir ao cume da montanha,
Descer às marés vivas do meu mar,
Correr-te nas veias da alma,
Cobrir-te as entranhas do não,
Ser o despertar do teu sonho,
Da tua noite em mim…
Quisera eu colher o brilho do teu prazer,
Captar a luz do teu corpo,
Beber na tua boca
Beijos de mel
Com sabor a mim e a ti,
Arrepiar a tua pele
No sussurro das tuas mãos em meus seios!
Mas não posso gravar os teus murmúrios
Entre carícias e loucuras!
O meu desejo contido
É o resto de um mundo falso…
E não posso receber o abraço eterno que me excita,
Partilhar a ansiedade do toque da tua pele!
E a minha boca na tua boca,
Derramando a minha alma em ti,
Incendeia-me o sangue…
A sós!

Livro

A ansiedade consome-me,
O mundo deforma-se,
O meu horizonte perdeu-se
Numa obliquidade que me entontece;
As fronteiras do céu esbatem-se
Em tons de luz pálida;
Ultrapasso-me numa transgressão que não conheces
E tento escrever uma história de amor.
Escrevo-lhe momentos;
Não lhe sei o título;
Rasguei-lhe a capa;
Não tenho estante que suporte o peso da saudade que ele contém.
E o amor escreve um conto de linhas sem fim!
A minha alma ainda geme:
Meu amor, meu amor!
Mas não te sei senão no sonho!
E não consigo terminar o meu livro!...

Ilusão de óptica

Este é o meu desejo dissimulado,
O meu devaneio inquietante,
A minha demagogia...
Em metáforas abusivas
E flocos de poesia soltos ao vento
Perco-me por aí sem encontrar a tua rima.
Junto palavras e invento cores na minha alma,
Tento decifrar-te nas entrelinhas,
Mas apenas encontro,
Na carícia das letras,
Pedaços de ti,
Das tuas mãos macias,
Dos teus lábios quentes...
E frases apetecidas desenham-se
Em capítulos que o Infinito escreve.
Roço os meus olhos alucinados por cada uma.
E têm todas o mesmo traço e o mesmo gosto!
Numa ilusão de óptica,
Apenas dizem”amo-te muito”!...

Páginas vazias

Construo um livro
De páginas vazias de nós...
Cada dia,
As minhas mãos dementes
Inventam e moldam
Mais uma página...
Empurro os teus impulsos
Para dentro de cada uma;
Roubo ao silêncio da tua boca
Frases que me apetecem
No fecho de capítulo...
Absorvo-te na chama que arde em mim
E, com o estilete da alma,
Desenho nos teus ouvidos
Desafios,
Canções
E ilusões.
Voo para lá de cada página,
Numa tentação indecifrável,
E procuro que as tuas mãos
Me prendam ao teu cheiro,
Me desfaçam as confissões
Que projecto em cada linha
Escrita sem nós!

Enigma

Disfarçadamente,
Insinuo-me por entre as franjas do tempo...
Entre as fronteiras do passado e do futuro
Consigo encontrar-te,
Sombra luminosa de ti
Reflectida na tela da minha imaginação...
Do outro lado me escondo e dispo a alma.
Cubro-me com as vestes solitárias de uma noite sem estrelas!
Procuro descolar as minhas asas,
Readquirir o meu brilho...
Vejo-te ainda e caminho para ti!
Vens sorrindo,
Trazes nas mãos o enigma de ti,
Eu levo na pele a resposta que não aceitas.
Por instantes que valem séculos
O meu coração palpita,
Parte para te colher...
Uma doce ansiedade provoca-me arrepios de lume,
Derrubo o espaço e cruzo o teu céu!...
Mas o fino véu que me separa de ti
Torna-se a minha mortalha!
Encontro-te dentro de mim...
Para te sentir partir...

Caminho

A minha criação

No emaranhado indistinto das vielas do sonho
Perco o rumo,
Perco o caminho que tracei de mim para ti...
Desapareço da ilusão que sonhei em ti.
Abandono a minha criação,
Mas herdarás de mim
As palavras lançadas ao mar da minha paixão,
Os momentos vividos nos braços da solidão
E a minha mão soltando a tua...
E eu
Nos lábios levarei o segredo,
Na voz, o silêncio,
Na pele, o teu cheiro
E, em cada amanhecer,
Uma alma branca!
Levarei…
Levarei!...

Loucura

Cola o teu sonho ao meu,
Paira na sua leveza...
Sobre o meu aconchego
Toca-me com entoações de amor;
Entranha-te na minha pele,
Enlaça-me nos teus lábios,
Escorrega pela minha paixão...
E num céu de inexactidões
Dança comigo os ritmos da minha fome!
Completa comigo uma sinfonia,
Dirige a orquestra dos meus sentidos…
E numa sintonia de desejos
Entoa as nossas emoções,
Toca de improviso
A sequência que vou inventando,
Vem ser o maestro da minha loucura!

Tempo

No meu lago de águas escuras,
Quietas,
Sem vida,
Perdura à superfície lodosa
Uma ternura espelhada no infinito da eternidade!
Das minhas mãos transborda a minha alma
E o sofrimento faz-se doçura
Deslizando – me pelos dedos
Ansiosos de magias,
Loucuras,
Desatinos…
Para lá da minha pele,
Dos meus sentidos,
Da atracção inexplicável como um feitiço,
Transformo o amor em saudade…
E o meu desejo errante,
Nascido nos primórdios do tempo,
Flui na minha memória a caminho do futuro,
Futuro anulado
Porque, desde o início,
Este sonho viveu no passado!
Tento seduzir a roda do tempo,
Enganá-la…
Em vão…
O futuro e o presente confundiram-se…
Dessincronizados,
Abalaram ambos,
Numa corrida inversa,
Para o passado…

Contigo

No amanhecer dos meus olhos,
Abriu-se-me a alma…
Sem saberes,
Acordei abraçada a ti,
Renasci no caminho que pisei
E colei o meu corpo ao teu!
Sentes-me,
Lembras-te que existo em ti
Aspiras-me no teu perfume,
Recordas-te do que não fomos,
Desejas-me!
Mais do que dei um dia…
Hoje quando a tua noite
Fizer sossobrar o meu sol,
Grita ao vento que me não amas
E sente as minhas lágrimas cairem
Das nuvens do sonho,
Num amplexo final!...

Deixa-me entrar

Penetro na noite através da lua nova,
Desfaleço, inquieta, de tanto sonhar...
Insinuo-me nos teus lençois
E não te encontro!
Em cansaços íntimos,
Desilusões famintas,
Evaporaste o amor que me perlava a fronte;
O coração continuou gemendo
E os olhos chorando...
Em vão!...
Trago-te para o sono desfeito,
Colho-te os lábios
E assomo à porta da tua alma.
Deixa-me entrar! – murmuro junto a ti.
Abre-se uma fresta,
Esgueiro-me por ela...
E possuo-te num frenesim de condenada!
Roubo-te a saliva, o suor e o sémen...
Quando me preparo para te assimilar a alma
Já não sei de ti!...

Quero-te

Pouso os lábios na curva do teu pescoço,
Aspiro-te,
Colho pedaços de ti,
Guardo-os na ponta da minha língua,
Saboreio-te de encontro ao meu palato!...
Solto um suspiro e exalo incenso!
Respira-me,
Colhe-me no hálito a paixão,
Devora-a
E perfuma-me a pele com o teu suor!
Toma-me,
Eleva-me do chão,
E sonha comigo um amor de céu!
Conserta a minha pele rasgada pela tua falta,
Costura as feridas que sangram de ausência,
Anestesia o meu ventre que dói no teu não!
Quero-te!...
Mas o sonho findou!

Ausência

Na distância de um sonho,
Cravo o meu desejo na tua ausência!
Seguras-me o deslizar do meu corpo no teu
E travas o meu ondular de serpente em ti.
Ofereço os meus seios à brisa dos teus suspiros
E recolho a paixão na ponta dos teus dedos!
Quando chega até mim o aroma do teu desejo,
Misturo-o com o meu
E, embriagada,
Me ofereço!
Escorrego para dentro dos teus braços
E das tuas negações...
A minha pele exala perfumes desconhecidos,
Descontrolados,
Molhados,
E a minha língua lambe a distância que separa as nossas bocas!
Abro, então, as portas ao teu desejo,
Degustas-me impregnada de ti...
Espalhada por nós,
Eu decifro os teus movimentos
No emaranhado inexistente
Das nossas roupas aninhadas no chão!

Mundo mágico

No camarim da minha dor,
Revejo-me na exiguidade do teu sentir!
Ferida até ao âmago do tempo,
Desenlaço as mãos do sonho,
Do não ser,
E pago o ónus de te querer
E não ter!
Recolho-me à escuridão da paz,
À sombra insinuante da noite...
No seu abraço cúmplice,
Rio e choro sem fronteiras
Que não tracei.
Apago o tempo dos outros,
Fecho-me neste instante
De nós...
Abandono-me às tuas mãos sedentas,
Destruo as paredes do mundo,
E mergulho em ti!
Estremeces,
Em sintonia com o meu desejo,
E o teu prazer chora.
Aceso,
No lume que te queima as entranhas,
Desces sobre os meus suspiros!
E deixo as tuas mãos envolverem-me!...
Num passeio perfumado,
Deslizam,
Flutuam,
No mundo mágico da imaginação!

Pétalas desfolhadas

Sonho contigo à luz da minha saudade,
Sonho mundos que não conheces,
Invento momentos...
Apaixonada, voo na tua essência,
Fecho a janela do mundo...
Abro-te a alma,
Deixo-te ver-me!
Dos meus lábios sopro ventos favoráveis
Para que navegues à bolina no meu corpo!
Desliza pela minha pele,
Esquece a linha do horizonte
Que te diz adeus!
Segura as minhas mãos entre as tuas,
Vem, antes que o Outono
Desfolhe as minhas pétalas...
Macias e leves
Suspiram de saudade!
Vem sentir o seu perfume,
Deixa que as teus sentidos as despertem,
Toquem e excitem...
Deixa que as tuas mãos me adormeçam
No teu chão quente,
Numa Primavera por mim inventada
Em jardim de rosas perfumadas!

Entoo uma canção de amor
Em cada murmúrio...
Cada melodia saída dos meus lábios
É um convite à luxúria...
Moves-te em movimentos graves e agudos
De uma partitura que me ensinas,
Feita de toques e carícias...
O laço que a nossa música teceu em nós
Prendeu-me...
Desataste-te!
Persistiram através dos tempos,
Num céu de olfactos,
Os aromas sensuais!
Aspirei-os para além do tempo
E da saudade...
O acaso nos juntou,
Mas a voz do silêncio
Roubou-te das partículas do meu sonho
E eu fiquei só,
Relembrando apenas os momentos da partida!...

Desilusão

Na fragilidade de um momento
Escrito pelo tempo sem tempo,
Abri estradas de sentimentos
Que te deixei percorrer...
Partilhámos viagens,
Segredos,
Mistérios...
A tua língua percorreu o caminho dos meus abraços,
A tua ansiedade desceu à minha fragilidade
E, arrepiados,
Excitados,
Tocámos a mesma melodia,
Saciámos a avidez dos corpos que se queriam,
Em prazeres descobertos...
Quando as tuas mãos,
Tocando a minha paixão,
Me abriam num soluço,
Eu voava
Numa leveza de sentidos decifrados!
Mas, para lá do teu peito,
Extinguiu-se a luz!
Escureci nesta minha noite fria...
O frio da desilusão assobia nas minhas entranhas...
As lágrimas gelam
E congelam-me a alma!
Já não estás aí,
Já não és,
Ou nunca foste,
Aquele que no sonho eu criei!

Tema: Sonho

O sujeito poético, na impossibilidade de continuar a viver um verdadeiro amor que entretanto terminou, propõe-se partir para o mundo do sonho onde reviverá esse amor e essa paixão. Parte, avisa logo no início, mas não parte só, leva consigo tudo o que já sentiu. Desta forma se inicia o “conto”. O primeiro poema é precisamente “partida”. A “visão” prolongar-se-á por poemas contando essa vida imaginada. Até um dia em que o sujeito poético se dá conta que a luz se extinguiu e as lágrimas congelaram. Decide acordar do sonho e percebe, então, que a personagem principal alvo do seu sonho não é ou nunca foi aquele que sonhára. Termina o sonho. Fui publicando um a um os poemas no recanto mas, para quem quiser entender o conjunto, coloco-os agora com a devida sequência.

Tema: Sonho

O sujeito poético, na impossibilidade de continuar a viver um verdadeiro amor que entretanto terminou, propõe-se partir para o mundo do sonho onde reviverá esse amor e essa paixão. Parte, avisa logo no início, mas não parte só, leva consigo tudo o que já sentiu. Desta forma se inicia o “conto”. O primeiro poema é precisamente “partida”. A “visão” prolongar-se-á por poemas contando essa vida imaginada. Até um dia em que o sujeito poético se dá conta que a luz se extinguiu e as lágrimas congelaram. Decide acordar do sonho e percebe, então, que a personagem principal alvo do seu sonho não é ou nunca foi aquele que sonhára. Termina o sonho. Fui publicando um a um os poemas no recanto mas, para quem quiser entender o conjunto, coloco-os agora com a devida sequência.